Descoberto na UA método revolucionário para reciclar plásticos usados no fabrico de garrafas
São 400 milhões as toneladas de plástico produzidas anualmente, mas só cerca de 10% são recicladas por não existirem técnicas eficazes para as reciclar.
Trata-se de plásticos feitos de polímeros como o PET, muito utilizados em garrafas que são descartadas após uma única utilização ou reciclado um número limitado de vezes já que o processo tende a diminuir a
performance do material.
Esta limitação leva a que a maioria dos plásticos acabe em aterro, ou disperso, contribuindo
para graves problemas ambientais, além de requerer um maior consumo de recursos fósseis
para produzir mais matérias-primas. A necessidade de contribuir para um desenvolvimento
mais sustentável, reduzindo o impacto ambiental, e o consumo de recursos, exige uma
revolução social e técnica, em primeiro lugar via a redução e consumo inteligente de
plástico, e, por outro lado, é premente o desenvolvimento de novos processos de reciclagem
que permitam a reutilização destes materiais, no âmbito do conceito geral da Economia
Circular.
Na Universidade de Aveiro (UA) uma equipa de investigadores descobriu um processo
simples e inovador que permite reciclar infinitamente os PETs e, com isso, ajudar a
solucionar a imensa poluição do planeta com plástico contribuindo assim para o
desenvolvimento da Economia Circular e para um desenvolvimento mais sustentável.
“Desenvolvemos uma forma simples, mais verde e contínua de fazer reciclagem de
poliésteres [uma das famílias de polímeros mais utilizadas no fabrico de plásticos], tais como
o PEF [baseado em açucares das plantas] ou o PET [de origem petroquímica] muito utilizado
em garrafas de plástico tipicamente utilizados uma só vez e depois descartadas”, congratula-
se Andreia F. Sousa, investigadora do CICECO - Instituto de Materiais de Aveiro, uma das
unidades de investigação da UA.
A coordenadora do estudo espera que o trabalho agora publicado com honras de capa na
prestigiada revista científica Green Chemistry “possa ser um contributo para resolver um
problema global”. Dada a importância do trabalho, a revista selecionou mesmo o estudo da
UA para figurar entre os 30 de uma coleção especial da Green Chemistry, o 2022 HOT Green
Chemistry article.
“Hoje em dia as formas existentes para reciclar estes poliésteres são limitadas, porque após
alguns ciclos de reciclagem os polímeros perdem performance e, portanto, deixam de poder
ser utilizados em aplicações de alto valor”, explica a investigadora. Para além disso reciclar
quimicamente um polímero como o PET implicava, até agora, várias etapas, algumas muito
demoradas e pouco sustentáveis. Com a abordagem descoberta pela equipa da UA isso não
acontece porque para além de o polímero reciclado manter sempre as propriedades
originais, o processo é realizado num único passo.
Processo simples, rápido e infinito
O trabalho, que para além de Andreia F. Sousa é assinado pelos investigadores do CICECO
Beatriz Agostinho e Armando Silvestre, demonstra ser possível reciclar poliésteres com o
recurso a solventes eutécticos, uma mistura de dois ou três compostos químicos que têm
um ponto de fusão mais baixo do que os componentes originais, oferecendo vantagens
como baixa toxicidade, biodegradabilidade, sustentabilidade e preparação simples. O uso
desses solventes no processo, descobriu a equipa, introduziu uma grande novidade que é o
facto de o processo ser realizável num único passo, para além de ser muito simples e poder
ser repetido infinitamente.
Antevê-se, com o trabalho concertado desta equipa, um extenso campo de melhoramento
deste processo, não só pela aplicação de novos solventes eutéticos, bem como pela
otimização e extensão deste processo a outros polímeros de origem fóssil (para além dos
PETs) e renovável, no que será, anteveem os investigadores, “uma contribuição essencial
para a circularidade destas famílias de polímeros e para o desenvolvimento sustentável
deste sector”.
Estima-se que cerca de 4900 milhões de toneladas de polímeros estejam acumuladas em
ambientes naturais, terrestres e aquáticos, nomeadamente os PETs. Neste sentido, sublinha
Andreia F. Sousa, “a criação de soluções de economia circular para a reutilização e
valorização de resíduos poliméricos são desafios globais e estão em linha com a visão da
União Europeia para a economia verde e azul e com os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável da ONU, nomeadamente o Objetivo 12 - Produção e Consumo Sustentáveis”.