Estudo da UA propõe método inovador contra SARS-CoV2 em águas residuais
Novos métodos de desinfeção de águas residuais têm vindo a ser estudados por investigadoras do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) que integra a Rede de Química e Tecnologia (REQUIMTE), polo da Universidade de Aveiro.
Um estudo recente mostra que o tratamento fotodinâmico pode eliminar o vírus SARS-CoV2 em 10 minutos sem afetar os organismos naturalmente presentes nas águas marinhas recetoras.
O tratamento fotodinâmico baseia-se na aplicação de moléculas fotoativas ativadas por luz que interagem com o oxigénio e geram espécies reativas de oxigénio (ROS, do inglês reactive oxygen species) com capacidade para inativar os microrganismos. O método tem sido vastamente investigado na vertente clínica (tratamento de cancro, acne, verrugas víricas, leishmaniose cutânea, endodontites, entre outros) e, mais recentemente, na vertente ambiental, como na eliminação de Pseudomonas syringae pv. actinidea (microrganismo causador do cancro do kiwi), desinfeção de tanques de aquaculturas, e tratamento de águas residuais.
Da investigação conjunta têm resultado trabalhos com resultados promissores da aplicação do tratamento fotodinâmico na desinfeção de águas residuais, com eliminação eficaz de contaminantes bacterianos e virais indicadores de contaminação fecal. Com o aparecimento da pandemia de covid-19, o vírus SARS-CoV-2 foi detetado no trato intestinal e nas fezes de doentes infetados e o seu RNA em águas residuais, o que levou a que a equipa da UA avaliasse a possibilidade da sua inativação fotodinâmica em águas residuais, evitando desta forma a sua transmissão ambiental.
Neste trabalho mais recente, as investigadoras utilizaram um bacteriófago Phi6 como modelo do vírus SARS-CoV-2. Numa primeira fase do trabalho, foi avaliada a sobrevivência do vírus em água residual em diferentes condições ambientais (temperatura, pH e luz), verificando-se que o vírus modelo pode permanecer ativo até pelo menos 84 dias (dependendo das condições). A aplicação do tratamento fotodinâmico desenvolvido permite eliminar das águas o vírus modelo após 10 min de tratamento. A simulação efetuada ao que aconteceria quando as águas residuais tratadas por este processo fossem libertadas para o ambiente marinho permitiu inferir que o tratamento aplicado não foi prejudicial para os microrganismos naturalmente presentes nas águas recetoras marinhas, que não sendo patogénicos para o Homem, desempenham um papel benéfico para o equilíbrio da vida marinha.
Com estes resultados, as autoras deste estudo acreditam ter dado mais um passo na possibilidade de aplicação do tratamento fotodinâmico como um método de desinfeção eficiente e seguro de águas residuais.
Este trabalho foi publicado este mês na revista científica Microorganisms e assinado por Marta Gomes, Maria Bartolomeu, Cátia Vieira, Ana Gomes, Amparo Faustino, Graça Neves e Adelaide Almeida.