Economia Circular traz ganhos às empresas
‘Qualify.teca’ quer menos carbono e mais eficiência energética na fileira dos
Equipamentos, Serviços e Ingredientes para a Indústria Alimentar
Capacitar as empresas da fileira dos Equipamentos, Serviços e Ingredientes para a
Indústria Alimentar para novos paradigmas da economia circular e para as estratégias a
seguir no sentido da diminuição da pegada de carbono e aumento da eficiência energética
é uma das missões do projeto ‘Qualify.teca’. Nesse contexto, a AECOA promoveu uma
sessão bastante esclarecedora no passado dia 29 de novembro, com dicas de especialistas
nestas matérias.
Todos os anos produzem-se 2,5 mil milhões de toneladas de lixo na União Europeia (UE). Um
número conhecido por muitos de nós e relembrado por Margarita Robaina, responsável do Centro de Investigação em Competitividade, Inovação e Políticas Públicas, no Workshop Demonstrador Tecnológico sobre Economia Circular, promovido pela Associação Empresarial do Concelho de Oliveira de Azeméis (AECOA), no âmbito do projeto ‘Qualify.teca’, a 29 de novembro último.
A UE encontra-se a atualizar a sua legislação relativa à gestão de resíduos para promover a
mudança de uma economia linear para uma economia circular. Isto é, optar pelo modelo de
produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes pelo maior tempo possível, e, desta forma, alargar o ciclo de vida dos produtos. Trata-se de um novo paradigma que contrasta com o tradicional princípio “extrair, produzir, utilizar e deitar fora”.
Uma oportunidade para as empresas
Se estas ideias não são novas, o certo é que o caminho a percorrer é ainda muito longo. E o tecido empresarial é parceiro estratégico na adoção de medidas que vão ao encontro desta tão necessária nova realidade. Segundo Margarita Robaina, “existe ainda um grande desconhecimento entre as empresas portuguesas sobre o conceito de economia circular”, sendo as de maior dimensão as que “apresentam maior perceção e melhores resultados”, no que diz respeito aos aspetos fundamentais que permitem a progressão em matéria de sustentabilidade.
De acordo com a especialista, que integra também Departamento de Economia, Gestão,
Engenharia Industrial e Turismo Universidade de Aveiro, este novo paradigma da circularidade
encerra, entre outras mais valias, “uma oportunidade para as empresas aumentarem a produtividade dos recursos e de melhorarem a utilização de ativos”, bem como “de fortalecerem as relações com o cliente”, permitindo mesmo uma “maior visibilidade da receita”. De igual modo, “a estabilidade da margem e a melhoria da qualidade dos ganhos, e um maior retorno sobre o capital investido”, assim como “um maior valor residual dos produtos em muitos casos” são outras vantagens da adoção de práticas verdes e mais sustentáveis.
Com uma abordagem circular responsável, as empresas acabam por “mitigar o risco de preços de recursos voláteis, pois a sua dependência de recursos finitos é reduzida, tendo mais controle sobre o custo dos recursos”, defende Robaina. E mais: “Os modelos de negócios circulares são menos dependentes de recursos importados e, portanto, os riscos de interrupção do fornecimento também são reduzidos”.
Neste sentido, “a Economia Circular revela-se, simultaneamente, um requisito de
sustentabilidade no processo de recuperação da economia nacional pós-COVID e uma oportunidade para as empresas portuguesas”, concluiu o docente da Universidade de Aveiro.
Eficiência energética e as comunidades de energia “Mais de 70% das emissões antropogénicas de CO2 ainda são originadas na conversão de combustíveis fósseis em eletricidade para uso em edifícios, aquecimento, refrigeração, produção e transporte. A nossa capacidade de descarbonizar a produção de energia nos próximos 10-15 anos determinará o destino do nosso planeta e a sustentabilidade da vida na Terra para as gerações futuras. Os sistemas de eficiência energética, produção de energia renovável e a eletrificação dos consumos podem significar até 90% dos cortes de emissões exigidos pelo Acordo do Clima de Paris”, começou por acentuar Maria João Benquerença, outra convidada pela AECOA para o Workshop sobre Economia Circular. Esta especialista da empresa Cleanwatts Lda de Coimbra trouxe as ‘más’ notícias
de que “os preços vão continuar altos nos próximos anos”. E apontou soluções no sentido da
eficiência e poupança energética para empresas e particulares, como a introdução de sistemas centrais de gestão de energia, que detetem anomalias e descontrolo nos circuitos, e a constituição das Comunidades de Energia Renovável.
“O modelo tradicional de produção de energia centralizada – esclarece Benquerença - está a
transitar para um novo paradigma caraterizado por um grande número de geradores de energia
descentralizados, impulsionados por Recursos de Energia Distribuídos (DERs). O surgimento de
modelos de negócio 'economia partilhada' tem levado a que a EU aprove novos modelos de negócio direcionados à promoção dos benefícios da energia limpa a preço acessível diretamente aos consumidores: Comunidades de Energia Renovável (RECs)”.
Certificar é mostrar-se preocupado com o ambiente
Uma outra matéria que esteve em cima da mesa, no evento promovido no âmbito do projeto
‘Qualify.teca’, executado pela AECOA em parceria com a Associação sua congénere de Águeda
(AEA), abordou a vertente da Certificação Ambiental. Numa explanação curta, concisa e bastante
esclarecedora, aliás como as demais, Marisa Leal, da empresa Qualidade Mais Lda, apresentou os vários instrumentos de gestão ambiental, “uns mais vocacionados para as organizações, no âmbito dos seus sistemas de gestão ambiental, outros direcionados aos produtos”: NP EN ISO 14001:2015; Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS); Rótulo Ecológico (REUE); e Forest Stewardship Council (FSC).
No fundo, como afirmou Marisa Leal, “todos eles têm em comum uma ideia: assegurar ao
mercado e a cada um dos clientes da marca que esta tem efetivas preocupações ambientais, promete apostar na sustentabilidade e em iniciativas de economia circular, e cumpre as disposições regulamentares definidas”.
De reter que, para além das apresentações das três especialistas, este evento, que teve lugar no
mezzanine da Cerveja Artesanal Vadia, englobou um painel de debate moderado por Jorge Luís,
formado em Engenharia de Materiais pela Universidade de Aveiro e aluno do programa doutoral MIT Portugal EDAM-LTI pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. As empresas
convidadas, desta vez, foram a Eumel Lda, a Valente Marques SA e a Essência d’Alma Lda,
representadas respetivamente por Rosélia Gonçalves, Paula Pinheiro e Victor Silva.
Recorde-se que o projeto ‘Qualify.teca’ é financiado pelo ‘Portugal 2020’, no âmbito do
Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), no montante de
678.179,55 euros, dos quais 576.452,55 euros são provenientes do Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional (FEDER).